AOS PÉS DE SANTA TERESA

Posted in Uncategorized on agosto 1, 2018 by alvaroromao

 
Subindo as tuas ladeiras

procuro me encontrar

eu procuro teus bondes,

teus trilhos de asfalto

que escondem

sob o trilhar

tantas lágrimas escravas

tantos gritos no ar.

 

Em tuas ladeiras se esconde

o Sol e, nele, o meu lugar.

 

 

Santa Teresa dos condes

Europa mais negra que há

É feita pelos teus pobres

que madrugam ao ir trabalhar

Santa Teresa dos Pobres

Não és só descida,

que tuas mil escadas

me levam ao sol,

ao céu,

que se põe sob os arcos

de um aqueduto do tempo.

 

 

Santa Teresa dos fortes,

te encontro sempre a brilhar,

com as cores da tua gente,

tuas dores

a revelar

que o Rio é um braço largo,

que te abraça,

a descansar.

 

 

 

Santa Teresa das Flores

Abra-te ao sol do amanhã

Que a natureza tão doce te aponta

um cruel sentimento de paz.

 

 
E, em Santa Teresa(…),

subindo ou descendo(…),

encontro a paz nas ladeiras(…)

paz do trabalho(…)

da feira(…)

de um dia…

 

 
Santos que moram na terra

sobre a baía

que apodrece…

aos pés de Santa Teresa.

Sangue amigo

Posted in Uncategorized on janeiro 16, 2017 by alvaroromao

amigo

se teu corpo não sangra

se em teu leito não sonhas

se eu e você já não somos

 

amigos

se nós já não nos gostamos

nos apaixonamos por outros ouros

e nossos olhos só vêem dor

 

amigo

se teu peito expulsa a cor dos meus ais

se teu retolhar é baço

e se no porto tempestades rugem

nada mais

 

amigo

nada mais

teu sangue quente ferveu

evaporou e subiu

pra cabeça vã

vaga de amor

amigo

não mais.

 

O dia de Ontem

Posted in Uncategorized on abril 17, 2014 by alvaroromao

Impressão minha ou a polícia está filmando, com uma câmera de vídeo enorme, o rosto da pessoa detida?
É impressão minha ou é polícia demais para manifestantes de menos?
É impressão minha ou sim estamos à beira de uma ditadura?
É impressão minha ou as polícias, com apoio de partes das forças armadas, estão planejando tomar o poder pelo golpe de força?
É impressão minha ou esta foto foi tirada a cinquenta anos atrás?
É impressão minha ou só por escrever isto eu já me coloco em risco de morte?
É impressão minha ou é covardia?
É impressão minha ou a polícia é o bandido pago pelo estado?
É impressão minha ou ser espancado pela polícia é entendido como coisa normal entre nós?
É impressão minha ou gostamos mesmo de apanhar?

O VENTO

Posted in Uncategorized on abril 10, 2014 by alvaroromao

LEVA A SEMENTE LONGE

ENTRE O QUENTE E O FRIO

CAI NO SOLO ÚMIDO

CAI NO PASTO SECO

CAI NO SOCO MURRO

CAI NA VALA O BURRO

CARREGA TODO O PESO

E NÃO TEM TEMPO PRO ESTUDO

CACHAÇA QUE TEM MUITO

ALCUNHA DE VAGABUNDO

E A MORTE QUE VEM VINDO

E ATRÁS DE SI O MUNDO

O VENTO CAI NO SOLO ÚMIDO

A roda da Roda

Posted in Uncategorized on abril 10, 2014 by alvaroromao

.

A primeira roda era rudimentar

mas melhoramos bastante

 

Parte por parte vimos o todo

A melhor roda está por criar

 

Rolo compressor, carrinho de feira,

carrinho de mão, rolo de massa.

 

Rodas de carros levam vidas.

 

Rotas de cálculos fazem círculos.

 

E a roda gigante gira solene.

 

A rota do eixo é sem lembrança.

Missiva

Posted in Uncategorized on abril 10, 2014 by alvaroromao

Esta Carta de Amor

Não terá data, carimbo ou remetente

 

Esta Carta de Amor

será mais uma

que jamais será entregue

 

O amor que não se dá

é a carta não enviada

é a mãe que espera o filho

que não vai mais chegar.

 

Lateja no papel

minha assinatura sémen

que o período não é fértil.

 

O envelope sempre aberto

espera a cola de fechar

valor, malote, selar.

A tristeza asfalto

Posted in Uncategorized on março 29, 2014 by alvaroromao

Carpete de casas, homens ácaros
Pulgas mulheres pulam de suas camas

Há matas verdes e espaçadas, quase perdidas
matas esparsas no grande cinza que cobre as casas.

Serpenteia entre os lares cortiços
a cobra canoa do lixo,
o dejeto esgoto,
coleta o sangue dos fracos,
carrega a alma dos sóbrios,
sabe-se lá
em que poço desova.

A luz sobre esses pântanos,
poluída luz do sol,
faz quem espera à noite
até desprezar o arrebol.

Parece que há uma enchente.
Falo por que vejo homens com nadadeiras,
escamas e anzóis a furar-lhes as bocas de peixe.

Prédios coloridos… Possível elegia da cidade.

Engolindo sapos

Posted in Uncategorized on março 29, 2014 by alvaroromao

Um grande sapo
se achava o rei da lagoa.

Aguardava, e os mosquitos
que voavam distraídos
eram surpreendidos no ar
e viravam comida do sapo.

Se os mosquitos fossem
mais espertos e mais rápidos
padeceria de fome o sapo
que se achava o rei da lagoa.

ETERNAS CRIANÇAS

Posted in Uncategorized on março 26, 2014 by alvaroromao

 

1 A GRANDE VANTAGEM

—SÃO OS ADULTOS QUE MANDAM NO MUNDO
—CONTROLAM AS CRIANÇAS COM MÃOS DE AÇO
—E EMBORA SEJAM OPRIMIDAS E EXPLORADAS NA INFÂNCIA
—TODA CRIANÇA TEM SOBRE OS ADULTOS UMA VANTAGEM
—O PONTO DE VISTA CHEIO DE ALEGRIA E CURIOSIDADE
—NÃO HÁ NADA MAIS BELO E PURO QUE O OLHAR DE UMA CRIANÇA

2 UM AMOR DE MENINA

—ANTONINHO TINHA 7 ANOS DE IDADE QUANDO CONHECEU JOANA
—JOANA ERA UMA CRIANÇA LINDA
—SÓ VESTIA ROUPAS BRANCAS
—E TINHA O CORAÇÃO MAIOR QUE O MUNDO
—ANTONINHO GOSTAVA DE PASSEAR COM JOANINHA
—QUANDO ESTAVAM JUNTOS JOANA SEMPRE SORRIA UM BELO SORRISO
—E ANTONINHO FICOU APAIXONADO
—JOANA ERA SUA PAIXÃO DA INFÂNCIA
—E JOANA ERA UMA CRIANÇA
—DE 83 ANOS DE IDADE

3 AS NUVENS

—ALBERTO ENSINOU SEU FILHO A VER DESENHOS NAS ÁRVORES
—TAL COMO SEU PAI O ENSINOU UM DIA
—E JUNTOS POR ANOS VIAM AS NUVENS PASSAR

4 SUPERMERCADO

—CAIO TINHA 4 ANOS QUANDO ANALISOU O MERCADO
—RAPIDAMENTE ENTENDEU QUE AS PESSOAS ENCHIAM OS CARRINHOS
—E LEVAVAM PRA CASA COMIDAS E OUTROS PRODUTOS
—QUANDO LA ESTEVE PEGOU UM CARRINHO PRA SI E O ENCHEU DE BISCOITOS, FRUTAS, PÃES E DOCES.
—NA ÁREA DOS CAIXAS DESCOBRIU QUE TERIA QUE PAGAR PELOS PRODUTOS
—O MERCADO, AOS OLHOS DE CAIO, HAVIA PERDIDO TODO O ENCANTO

INCERTO OU ERRADO ou UMA CARTA AOS BRASILEIROS

Posted in Nadando Contra a Correnteza on janeiro 31, 2014 by alvaroromao

A palavra de Deus é de deus,
ninguém humano conhece a palavra de deus.

Humanos dizem que a palavra de deus está na bíblia,
humanos dizem que a palavra de deus está no alcorão,
no velho ou novo testamento,
mas a palavra de deus,
como o próprio nome já diz,
é de deus.

Pastor é deus?
Padre é deus?
Livro é deus?
O marceneiro Jesus,
lá de Bélem,
que dizem ter nascido há mais de 2013 anos,
é deus?

Talvez, aliás,
deus nem tenha sequer palavra,
nós não sabemos…

O pajé sabe das palavras de deus?
Ou quem sabe é o papa?
nós não sabemos…

O que somos nós,
muitas vezes sem o conhecimento
material e visível
das técnicas e teorias
desenvolvidas pela nossa espécie,
os humanos,
julgamos saber os desígnios de deus,
ousando chamá-lo até
de nosso Senhor,
algo que sequer sabemos
o que é,
por que não o conhecemos.
Quem é nosso Senhor?
Quais são suas ordens,
suas vontades,
seus castigos?

Como podemos ousar saber tanto,
se muitas vezes não entendemos
o que lemos?
Se nada sabemos
sobre o que somos,
ou, se ainda,
antes mesmo,
temos entre nós
tanta desigualdade
nas oportunidades
de sobrevivência
de um ser para outro.

O que são os nossos sistemas políticos,
invadidos por ladrões e tecnocratas sem recursos?

Os problemas reais,
do mundo real,
das coisas vivas que pensam,
os problemas humanos
não nos damos o trabalho de resolver,
mas queremos resolver os planos de deus…?

Ó brasileiras… ó brasileiros…
Não deixais
terem queimadas as vossas terras,
vossas vidas e vossas almas,
neste afã impensado
de perseguir a deus,
aceitando,
como se normal fosse,
fé cega,
admitindo pessoas
que se digam
representantes de deus,
promovendo o preconceito,
a violência,
o egoísmo,
a segregação,
a competição
e a ignorância.

Ainda falta conhecimento.
Quando sairmos da era da informação,
ou quando esta grande guerra acabar,
talvez serão os brasileiros
os vencedores.

Apoiados na luta
e na formação dos nossos pares.
Combatendo a ignorância
proposta pela crença obstinada naquilo que não se sabe
e pela falta de dúvida no mar de incertezas.

Hoje ouvi que se tem fé já basta,
independente,
a fé é o bastante.
Fé não mata fome.
Fé não protege do frio.
Fé não desvia um projétil calibre 380.
Eu duvido da fé.

Minha fé é na dúvida,
eu creio que nada sei,
se os humanos me são estranhos,
curiosos, duros, amáveis…
deus é intangível.

A ideia de deus para mim
é um ser na mente
de quem acredita,
para cada pessoa que crê em deus
existe um deus diferente,
que só aquela pessoa conhece,
e sim,
isso é encantador.

Cada deus diferente
tem seus próprios modos de pensar,
agir, falar, castigar, salvar, ser fiel,
pedir, perdoar,
e até roubar, matar, estuprar,
por que,
na boca dos humanos,
deus faz tudo isso também.

Descobrir o deus
em que cada um acredita
pode ser
uma divertida distração.
Para quem se interessa
é até mesmo um prazer.

Mas no fim,
para mim,
é deprimente.
Salvam-me,
nesta saga,
os deuses mais diferentes,
mais perdoadores,
salvadores,
expansivos,
criativos,
coloridos,
permissivos,
maravilhosos,
pais da natureza…

Por que?
Mereceria a natureza,
já tão rica,
esplendorosa,
e infinita,
um pai?

Quem inventou que tudo isso tem um criador?
E se tiver mesmo,
todo o Universo tem um criador,
beleza,
mas quem de nós iria saber disso?

Que deus maluco é esse
que cria o universo
para depois separar,
salvar,
castigar,
a esses pedacinhos ínfimos de vida
neste pequenino planetinha
perdido em meio a esta inexplorável galáxia?

Eu penso bastante.
Passo horas pensando,
tentando resolver dilemas.
Meu deus posso chamar de pensamento?

Penso mesmo.
Penso,
logo deus o que é?
Quem criou deus?
Ele mesmo se criou?
Ou terá sido outro deus?
Ou terá sido um humano esperto,
tal como outros
que criaram todas as ideias?
O deus do Egito antigo ainda vive?
Quantos anos de idade esse garoto tem?
Como se mantém tão jovem,
mesmo depois de tanto tempo?

O que se concluiu
é uma questão
que atravessa os tempos:
Os homens passam rápido, morrem cedo.
As ideias ficam.
As ideias são mais fortes
e mais resistentes
que os humanos.

Mas foram as ideias que nos criaram?
Somos feitos de ideias?
Quais são as nossas ideias?
Ou seria certa a pergunta:
somos pertences de quais ideias?
Quais ideias nos dominam?

Elas sim,
nisto eu acredito,
as ideias são nosso Senhor, e muito nos faltará.

FLORAMOR, À F.K.

Posted in Mimimi on novembro 19, 2013 by alvaroromao

É nisto que me permito
rimar amor com flor
O amor é pintado de toda forma
Um amor flor-mais-pura
Cultivado em boa terra
Amor de cadência ímpar
e que floresce uma vez só
Mas o amor é flor-mais-rota
é maria-sem-vergonha
que fenece (pra depois se renovar)
Flor da rua que tem cheiro
e nem notas ao passar.

AOS NAMORADOS UM DIA

Posted in Fora de Conjunto on novembro 19, 2013 by alvaroromao
Sabe aquilo que te ensinaram
sobre o que pode ser o amor?A novidade de ontem não pode ser a de hoje!

[…]

Subindo as ruas da cidade
encontrei-me comigo.
E eu, que estava sozinho,
era um neném a depender dos outros.

Neste único e crucial dia
a proposta encabulada
é reinventar revertidamente
o que pode ser o amor.

Sem práticas, sem palavras,
sem nada ausente,
retornar.
Descobrir por si mesmo
na realidade que temos
onde esconde-se o tormento.

O amor é duro
o amor é planta
o amor é sal e o amor é doce.

Conceitos, ações,
presente ou futuro,
passado ou tradição,
a placa que nos indica
como devemos proceder:
o amor é logo ali,
na loja de biscoitos
na loja de carnes,
na farmácia.

Sente o amor no ar?
Sente-o em talvez em ti?
Mas de que forma criado?
Será um monstro ou um anjo
quem à noite se deita ao teu lado?

Amor é coisa de gente
ou o bicho também sente
que amar é natural?

Terá na terra amor maior
que a água para os peixes?
[…]

A repetição, o que nos causa,
a repetição ininterrupta
desta palavra: Amor?

Teremos nós, os modernos, tempo
para pensar em como produzir amor?

Há no mercado
que seja um pequeno espaço
onde possamos encontrá-lo?

[…]

Pressa, fome, saudade…
são tantos os sinônimos de amor…

o CAMINHO DE IDA QUE TRAZ DE VOLTA

Posted in Uncategorized with tags on novembro 19, 2013 by alvaroromao
O caminho sinuoso e cheio de pedras
parece mais duro que a subida ao céu,
e até nos platôs mais firmes,
naqueles belos momentos mirantes
em que podemos sentar, conversar
e ver o tempo longe no espaço passar,
não há descanso possível
pois sabemos que virá outra curva
e outra parte de um caminho inexplorado.

Curvas, cumes, vales secos e rios;
a natureza fecunda, que abre seus braços
convida, leva-nos mais longe
em nossos caminhos.

E podem surgir por entre as rochas
serpentes, chacais, raposas e aranhas
nada que toque-nos de modo fatal, a morte
quando andarmos atentos por caminhos remotos.

É certo que um dia o deserto virá.
E o rio será a mais bela lembrança.
A água antiga, corrida entre veias de terra
que empoçava os buracos da estrada
de nosso ponto de partida.

Lamaçal, lagos, cachoeira
parque aquático natural
a fonte de nossas vidas
a seiva de nossas raízes nos dirão 
que o caminho é mais que ir
descobrir, explorar..
mais conhecido
(mais adultos)
o caminho nos propõe voltar…

E quem foi covarde pra não ir
jamais poderá tornar,
mas pra quem teve o ímpeto
a coragem de invadir, conhecer, buscar
será mais fácil o retorno encontrar.

Pois que toda volta é outra ida.
Reencontro. Base velha.
A casamata abandonada
que ainda servirá.

Quando encontrar
não será tarde, nem cedo. 
Será o tempo de estar.

Aquele canto distante
que um dia ficara pra trás
será também nosso rumo
novo, caiado, necessário.
e as pedras da ida,
serão antigas amigas,
com quem sentaremos para conversar…

Álvaro Romão – (S) —> (N) —> (S) […]

AS DUAS IRMÃS

Posted in Uncategorized on novembro 19, 2013 by alvaroromao

A alegria me procurou.
Veio falar-me da tristeza.

A Alegria tocou-me a campainha.
Quando eu abri a porta
quem entrou foi a tristeza.

Mandei a tristeza embora
A alegria foi junto.

NO ROMANTISMO, O CHORO, A CONVULSÃO

Posted in Uncategorized with tags on novembro 4, 2013 by alvaroromao

Dormi, no caminho passei do ponto

Uma lágrima para cada morto

a nossa aldeia chora.

 

O governo, que dor! É ele o carrasco.

Belo Monte é o progresso.

E são tantas lágrimas

que no tempo não cabe

uma lágrima para cada morto

— Por quinhentos anos chorar

— cento e vinte dores por minuto

— vivendo e chorando os anos

— e a conta não vai fechar.

 

Quem vier depois que chore

que resgate a minha dor

Nem que o mundo todo

tolo chorasse

ainda assim não se teria

uma lágrima para cada morto.

REALIZANDO SONHOS

Posted in Uncategorized on novembro 4, 2013 by alvaroromao

É de verdade!
Não é sonho, nem
impossível.

O real é surpresa,
enquanto o sonho
é previsto.

O real, na natureza
é o que acontece
na vida.

o sonho não acontece
espera, aguarda espaço
quem sabe um dia…

Agradecimento

Posted in Fora de Conjunto on agosto 17, 2013 by alvaroromao

 

Era uma vez um bobo rapaz que, em tempo de guerra, esperava a paz.

Sentado num tronquinho, com as pernas pelo ar.

Diziam-lhe inocente, infantil e malcriado,

moleque, traquinas e vagabundo

só por manter suas jovens pernas balançando no ar

aguardando a paz…

 

Sentado sem alcançar

nem chão, ainda perto,

nem paz, bastante longe.

Ele não queria por nada levantar…

 

Levantar para que…???

 

Em meio à guerra se isolava.

Das invejas ele se preservava.

Das paixões se resguardava e

dos amores queria

ser um mero espectador.

 

Um dia se levantou

para dar uma espiada.

Viu um mundo louco,

de buzinas e faróis,

de matanças e desgraças,

pessoas mutiladas…

 

caiu desesperado,

sem forças para

sequer se levantar

e ali,

por si mesmo

estendido ficaria,

até o fim dos seus dias,

à espera de uma paz

que jamais viria,

para talvez levantá-lo…

 

Esperaria no chão,

chutado por aqueles

que pregam cartazes de caridade e compaixão

nos altos muros das igrejas…

 

Ele chegou a gritar,

porém ninguém o ouviu.

 

Os muros eram cada dia mais altos

e nas igrejas falava-se alto, bem alto,

sobre outros assuntos, diversos da bondade. 

 

Felizmente, então,

aconteceu-lhe algo bom,

reflexão,

um violeiro veio de longe e,

com sua viola no ombro,

cantando uma melodia nova e,

sem pensar no lucro de tal ação,

estendeu-lhe a mão…

 

Com a força que o menino julgava não ter

agarrou.

E tão forte foi aquele abraço

que até hoje ainda resta

dele um bom lembrar,

uma saudade…

 

A viola de um desconhecido violeiro

continua a conduzir o escrever de um agradecimento

que não teria sentido aparente… um solo…

 

À viola de um desconhecido violeiro,

obrigado, agradecido por tudo!

Maciez

Posted in Fora de Conjunto on agosto 7, 2013 by alvaroromao

Onde é que se esconde
o recurso que não se explora?
Onde está o tesouro?
Que é isso que ninguém vê?

Passeios, parques, conchas
por dentro do ser se elevam flores
nas intocadas alturas morais
se esconde o que?

O Diabo Apaixonado

Posted in Livro Poético Singular das Dores on agosto 4, 2013 by alvaroromao

alvaro romao

1

Celerado, o próprio diabo

se viu certa vez apaixonado

e após tantas maldades,

o coração indiferente

bateu acelerado.

 

Como esquecer do passado

e ter nas mãos o fardo

de encarnar a bondade?

 

Como assumir-se diabo

e mesmo assim apaixonado?

 

No meio de tanta maldade

o diabo fez casa, reinado

e agora embalado

por cantigas de amor malvado

o diabo é pano

marionete, manipulado

nas mãos do amor o diabo calado.

 

Seu amor não apanha,

não há tortura nas mãos do diabo

amor de diabo amor.

 

E o diabo

mesmo amando

escondeu, segredo, piada

a vergonha na família

um diabo que ama?

Que maior palhaçada!

Eu não amo, dizia o diabo

com cara de apaixonado.

Mandaram, não havia saída

que matasse seu amor.

Todo caso de amor, pro diabo

é um homicídio.

E não havia saída

matasse ou deixasse de ser diabo.

 

E o…

Ver o post original 766 mais palavras

TRISTEZA DE COMPOSITOR

Posted in Fora de Conjunto on agosto 2, 2013 by alvaroromao

alvaro romao

Na festa, que samba!!!

Ninguém diria que aquele
ser macambúzio e mal vestido
que não participava do coro
que não batia caixinhas de fósforo
que não bebia e nem sorria
não dançava como os outros
nem com as meninas mexia
e não tocava na carne
era ele mesmo, sorumbático
o próprio compositor.

Faltava a ele
dos compositores a alegria,
a verborragia dos letristas
o gingado dos sambistas
o ego inflado dos artistas.

Era um ser cabisbaixo.
Baixo, calado, não via.

Em volta a sua agonia:
não respeitavam a melodia.

Ver o post original

AH AH AH OU CRÔNICAS DE UM FINO JANTAR – DA SÉRIE “POEMAS IMPUBLICÁVEIS”, PUBLICADO EM 2011, NAS EDIÇÕES LIVRES, POR ÁLVARO ROMÃO

Posted in Impublicáveis with tags , , , , , on julho 31, 2013 by alvaroromao

Ah> Ah> Ah>  Que sorriso mais morte>  vendem-se os artistas>  Ah que dor mais forte>  um prato>  uma sacada>  uma pizza>  seus restos no prato> restaurante fino>  prato salgado>  seus vermes no prato>  e um que de ser chique e viver para tal> e ser chique em vida>  e só parecer>  meus pares se vão>  como ímpares> e eu os olho>  e> pasmo me encaro>  um olhar e me calo só calo> e entalo o copo seco de vinho>  no peito sem vão> então>  é noite cavada no ser> é açoite é corte>  é porto que vem e quem vai é parto>  só falo>  não faço> me traio>  no porto é noite> no pão de hoje>  no vão a morte> é>  o homem morre>  na minha frente quieto eu paro>  eu calo> o homem morre>  o homem dorme em seu próprio sertumba> em seu ócio sertumba>  em seu ser> em sertumba cálida vida>  em ser calamala vivida>  em viagem de trem>  em mente sem dente mastiga e viva> vivia vóvó>  vivia vovô> viviam meus pais>  sem pão> sem tão>  sem dor> vivia na trilha de uma viagem>  que dava vontade de viver a vida>  e só>  de viver tanto a vida>  tua e minha>  tão e tanto> não é tanto>  a pizza>  o prato>  a bebida> > fino restaurante>  salgado prato>  de pizza> >  doce marmita> pães sem pais>  de passe Passagem> > doce> doceira>  senhora> carteiro>  cartinha> selinho>  pudor de menina> senhor de calcinha> choca a própria ova> desova a polícia outono>  inverno na moda> da boca>  da torta> da rica senhora de branco>  toda engomada> tal descarnada>  que hoje daqui eu vi> seu sorriso é tal falso>  qual canto de jabuti> y é triste o sorriso>  é falso pois mente> somente pra ti que se importa> e tão pouco> que come que já não ri>  e engoma a roupinha> é chique a sainha>  a calça tadinha> tarada> mal cabe > mal mole> vive > não chora> o estudo> —————–>a bitola>>>>  o encarar>  o servir> como quem é servido>  sentir e servir a quem vem> com pão de idéias>  com mão de martelo> e foice de prata armada pra nada>  assusta mas não mata>  e só de assustar já basta tanta água molhada>  tanta gente pasmada> toda chincaceiada>  de um dia num álbum de fotos se abrir> sem coração>  somente teso partir> e não voltar sem sorrir>  que a vida é uma grande mentira> que eu finjo> que eu conto pra ti. Continue lendo

PASSEIO DE POETA – DA SÉRIE “POEMAS IMPUBLICÁVEIS”, PUBLICADO EM 2011, NAS EDIÇÕES LIVRES, POR ÁLVARO ROMÃO

Posted in Impublicáveis on julho 31, 2013 by alvaroromao

Quem se mostra e passa
que se aceita não passa
aí pensa pecebe
bolha moscapulmão pneu
chão asfalto breu
rasgo pasto pão
menos césio grão
tão cor
flor 

tanto pano viagem
tanta vida passagem
passa psiu
correu sumiu

acabou de escrever
fechou o caderno
guardou a caneta
abriu o armário 
acabou o café
saiu pra comprar
na esquina foi visto
peguem ele,
que cara estranho
um escritor
pau nas costas
murro bocacete
pano folha sangue
chão pneu cantando
e o coito agredido
a polícia revolta
desceu a rua
em busca de mais um ladrão para roubar
de um escritor,
de um poeta pra apanhar
quem é diferente igual apanha
quem é igual diferente apanha
na calça
na sobras
nos restos
nas bostas

das letras

apanha o que sobra e vai ——>> ao dentista
refaz
coloca desloca
costela
vértebra
panela
alquebra
desregra
a vida do homem
da lei
da vida dura
da boca pura
de um falante
alto no carro
corte de faca
de pão e de mata

SEM ACENTO – DA SÉRIE “POEMAS IMPUBLICÁVEIS”, PUBLICADO EM 2011, NAS EDIÇÕES LIVRES, POR ÁLVARO ROMÃO

Posted in Impublicáveis on julho 31, 2013 by alvaroromao

 

Sem acento 
Em tanto tempo eu vi
Sem acento
ir
a palavra
a cantos de loucura sóbria
em palavra
em deixo torto o tempo
eu corto seco
eu limo eu temo
em palavras cálidas me escondo
sem acento
durmo
tormento de anil
e caio sem acento
no vaso podre da vida

vou me vender barato
batizado de mucama
de lavado
desregrado
sem alma
sem trauma
sem calma
atara a deusalouca
a meusaboca
a neosaldina
na minha roupa
o tempo passa
o camera vidro
a caça
vidro a maça
ataca
mas não mata
já sei
já lí


Entormento em cantiga

de sempre noite

de puro açoite

de corte e foi-se

e doa-se a quem 
dó 
de tábua fresca 
de carne dura 
podre crua 
boite de flor 
suporese 
embelleze 
anestesésico brilhante da morna flor de açucena 
o Kolene 
o Neutrox 
O Carinho 
O Engov 
O Neutrox 
O Kolene 
Embelleze 
a Natura 
O Botica 
Rio
Continua lindo

O Neutrox nos cabelos
selos de pus sêco 
texto noite fio 
calo bebo rio 
acordo doce 
beijo a morte 
calo a boca 
sobre o termo subo sempre 
caio doente 
Enfermo 
Calafrio cai no fio 
arrepio 
no laço
no bacana da insensidão 
maluca rua da loucura 
efeméride acesa na calada 
intempérie retina prisão 
aducídea escarlina 
escarro tina leite prado 
seta estepe vagão 
noite trilho crepúsculo 
luar vagar 
cerosa 
edílio

pobreza sertão

Há quanto tempo – DA SÉRIE “POEMAS IMPUBLICÁVEIS”, PUBLICADO EM 2011, NAS EDIÇÕES LIVRES, POR ÁLVARO ROMÃO

Posted in Impublicáveis on julho 31, 2013 by alvaroromao

há quanto tempo já não passam os senhores da guerra por aqui tudo é pazbelo paraíso da terrarrincão
este chão que tudo dá a todos que em paz no senhor em sua paz vivem
pazempaz
que paz é essa maravilha
maior que as dores do passado
maior que as amarguras todas
e que todos os desprazeres
triviais tristezas-trens de-minas
e todas as mazelas as fomes sem pai
e todas as corruptas sedes dágua
e todas as faltas e todas as sem ter
sem terra pra brotar flores que é isso de flores?
num espaço só de paz sou paz sou pó
poema sem flores
sem tristeza
nem remorso
Samarco
Vale
RefeiçãoTrabalhopuro
Puro Trabalhoé só trabalho
sem palavras pras letras que se juntam em desconceitos conceituais

adgfadiugcmadbsgvbmanhdgcyagc anbcjaguydcsghmdabsvjchgaxc acasgcyab cbacascb dcadcacv adc adj adgj

ardente
ardendo na noite
por dentro vou
arasrdsh
arte
quearte?
vai
parte sem ler
que é issoassim
que pouco e só

que isso passa
co nosco
com outros vindo e vivendo o nosso lugar
caiu
caiu

iucá

2 – DA SÉRIE “POEMAS IMPUBLICÁVEIS”, NÃO PUBLICADO

Posted in Impublicáveis on julho 31, 2013 by alvaroromao

houve enfim descanso rouco
houve só um tempo
monto meu cavalomosca
e cavalgo pelas selvas do infinito voar
e pego piolhos no ar
piolhos que dançam feito bolas
ouvindo as cantigas
rodopio louco pelo céu
desci ao cume
cantei e soprei espirro

tudo em vão
pobre matéria
corria doido
vã e tanta artéria de sangue
que escorre pelo bueiro do esgoto
sem tampa ou vazão
pus
cuspe
monte de gente amontoada
perdida
sabem eu as observo
eu as controlo eu sou o vosso deus
eu sei
o que ninguém sabe
sei de tudo e sei de nada
obrigado
obrigado
obrigado
feito um aluno num banco de escola
pobre aluno
de uma escola
de fundo de poça-lama
de poça-funda-escura
de lama-pura-lama
de só lama funda poça
de escola de alunos sentados obrigados a varrer
pra dentro de seus próprios seres todo o conhecer
e as inutilidades
e as padronistas estudantes de pedagogia
que os engolem
que os vomitam
os saberes
todos bagunçados
como armário de escola suja
como carteira
como mão de agiota
suja-escola-viva
teacher
tea-cool
ice-tea

tia

posso ir no banheiro?
vai a merda moleque
seu burro!

1 – Da série “Poemas Impublicáveis”, publicado em 2011, nas Edições Livres, por Álvaro Romão

Posted in Impublicáveis on julho 31, 2013 by alvaroromao

Então me liga
numa tomada 220
e desliga da visão desfocada
que permite
ver

veja que ver é pouco ver
e ler e pouco
ver é ler, mas que sem óculos com uma carabina apontada
engatilhada para a orelha esquerda
mas de tal forma
que o tiro atravesse
e antes de entrar já tenha saído quente
resfolegante
carregando
na ponta da bala descarregada
um pouco de miolo,
umas idéias e muita cera de ouvido

ouvi esse boato de um estupro consentido
que todo mundo viu e riu
que ninguém quis ver mas quis
que viram de viraram
que desfizeram as malas
que voltaram da viajem depois da morte consumada

destruído o corpo-seco
lambido o pão
o dedo sujo
o vômito pelo caminho
e a menina que arrastada fora-rosa
a menina rosa
que descia lânguida a rua sôfrega
que descia e foi submetida
como nossa senhora
uma virgem
foi tanto
e detida pelo andaime
caiu ralou escorregou
por firmes braços rudes
e só
somente
com o consentimento haverá tal fato
ato-podre-corpo-sujo
moralmente
insensivelmente
mente somente para mim
que cobro corpo são
tão são tão limpo
que seja impossível
que seja um sonho doce
que esteja a várias léguas
metros e sem ti
metros
é só o que me gasta
só me gasta
o calar
o estupro
e sorrir como quem vive entre as flores e entre as angustiantes farturas
sorrir macambúzio feito um animal podre
tornar vida
tanta e tanta morte em forma de cores
em tons azuláceos e rosas
flores
pobres senhoras descem a ladeira
doces meninas quem as vê?
espreitam olhos valentes e covardes
doces e salgados
as tais mãos rudes do patrão
o semblante sem figura
a falta de sensação
o coração afogueado
de emoção infantil
dos “banquete” da escola
como feras espreitam e são espreitados
os pobres estupradores consentidos.

DAS COISAS QUE SÃO IMPORTANTES

Posted in Fora de Conjunto on julho 29, 2013 by alvaroromao

Mas, na vida, que há de importante?
Poucas coisas têm muita importância.
E vais fazer o que com isso?
Eu? Vou continuar escrevendo.

A CIDADE DAS ANDORINHAS

Posted in Fora de Conjunto on julho 29, 2013 by alvaroromao

Na semana que passou
uma ave pequenina
planejava sua vida.

Vôo em vôo ela ía
buscar galhos e folhinhas
pra esquentar sua casinha.

E o ninho dia a dia
crescia na figueira
tão frondosa e tão bonita.

Mas o tempo mudou
e agora já não há nem ninho
nem ave, nem figueira.

Vibra o ar
que anda medroso
sem a ave que antes tinha

Voam pedras
balas, gás
e quentes granadinhas.

MATEMÁTICA

Posted in Fora de Conjunto on julho 29, 2013 by alvaroromao

São dez delegacias para cada cidadão.
São cinco promotores para cada defensor.

A poesia desta conta é a falta de poesia
em meio a tantos carros blindados.

o QUE HÁ SOBRE NÓS

Posted in Fora de Conjunto on julho 29, 2013 by alvaroromao

Sobre tudo não há Deus. Há o gás lacrimogênio.