Archive for the Livro Poético Singular das Dores Category

O Diabo Apaixonado

Posted in Livro Poético Singular das Dores on agosto 4, 2013 by alvaroromao

alvaro romao

1

Celerado, o próprio diabo

se viu certa vez apaixonado

e após tantas maldades,

o coração indiferente

bateu acelerado.

 

Como esquecer do passado

e ter nas mãos o fardo

de encarnar a bondade?

 

Como assumir-se diabo

e mesmo assim apaixonado?

 

No meio de tanta maldade

o diabo fez casa, reinado

e agora embalado

por cantigas de amor malvado

o diabo é pano

marionete, manipulado

nas mãos do amor o diabo calado.

 

Seu amor não apanha,

não há tortura nas mãos do diabo

amor de diabo amor.

 

E o diabo

mesmo amando

escondeu, segredo, piada

a vergonha na família

um diabo que ama?

Que maior palhaçada!

Eu não amo, dizia o diabo

com cara de apaixonado.

Mandaram, não havia saída

que matasse seu amor.

Todo caso de amor, pro diabo

é um homicídio.

E não havia saída

matasse ou deixasse de ser diabo.

 

E o…

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A Dor Quimera

Posted in Livro Poético Singular das Dores on julho 30, 2012 by alvaroromao

Não sou do amor a espera.
Meu perdão, a dor quimera
que busca insensata
no lusco fusco paixão
o que alija
o relógio do tempo

Sorrir em plena primavera
Que busca inacabada é esta
que me desprega os botões?
Que corte, que formas, que bela
é o alvo de meus canhões
doce floresta calma
balança carinhosa as folhas
em ventos secos

Ecos do seu verdor voejam
e pairam no ar
sibilas borboletas
joaninhas e abelhas.

Surge num instante
e some quando acaba.
Este fogo, Prometeu
esta brasa não consola,
mas liga o motor da natureza
esta forma não te apraz,
mas é assim que acontece
com os jovens e os velhos.

Só os apaixonados podem ver
que há beleza,
que os outros estão cegos.

Profissões

Posted in Livro Poético Singular das Dores on março 19, 2012 by alvaroromao

1

 

Faxineira procura
mas não acha
o amor é uma loucura
Marta Rocha da Silveira
Faxineira
Mas diriam puta
Por ser pobre
em seus panos
maltrapilhos
Faxineira
com orgulho
limpa a tua sujeira
patrão porco
A faxineira limpa a sujeira do patrão
que é um porco
corpo porcoral
porco de faxina, chiqueiro.

 

 

2

 

 

Jogador
de futebol
machão
comedor
fome de bola
faz gol
e assim
consegue ser feliz
come grama
dá carrinhos
casa, tem filhos
com a esposa
e assim consegue ser feliz
jogador de futebol
vira comentarista
de futebol
pois só os jogadores de futebol sabem sobre futebol.

 

3

 

O jogador de futebol
se casou com a faxineira
A casa era limpa
sobretudo aos domingos
dias de jogo
havia visita
na casa da família.
O patrão Porco
chamou a faxineira
para ver um futebol
a faxineira disse que
era casada com o futebol.
O patrão Porco
visitava a faxineira
todo domingo
havia visita na casa da família
O dia começa com missa
o dia termina no inferno
um fogaréu tremendo
o fim da concentração
E a faxineira em casa
teria cama e mesa fartas.
O jogador de futebol
recebeu dispensa do trabalho
Voltou mais cedo pro lar
E todo domingo havia visita na casa da família.
O patrão porco
tentou se explicar
com um chute
entre as pernas
do jogador de futebol
A faxineira arrumou a casa
O jogador de futebol
sofrendo
foi rever seus vídeo-tapes.

 

O Diabo Apaixonado

Posted in Livro Poético Singular das Dores on março 18, 2012 by alvaroromao

1

Celerado, o próprio diabo

se viu certa vez apaixonado

e após tantas maldades,

o coração indiferente

bateu acelerado.

 

Como esquecer do passado

e ter nas mãos o fardo

de encarnar a bondade?

 

Como assumir-se diabo

e mesmo assim apaixonado?

 

No meio de tanta maldade

o diabo fez casa, reinado

e agora embalado

por cantigas de amor malvado

o diabo é pano

marionete, manipulado

nas mãos do amor o diabo calado.

 

Seu amor não apanha,

não há tortura nas mãos do diabo

amor de diabo amor.

 

E o diabo

mesmo amando

escondeu, segredo, piada

a vergonha na família

um diabo que ama?

Que maior palhaçada!

Eu não amo, dizia o diabo

com cara de apaixonado.

Mandaram, não havia saída

que matasse seu amor.

Todo caso de amor, pro diabo

é um homicídio.

E não havia saída

matasse ou deixasse de ser diabo.

 

E o diabo,

apaixonado,

desistiu de ser malvado

foi no amor encontrar, suado,

a paz que não tinha

no malvado passado.

 

Durou pouco é verdade,

o amor não é engessado,

o diabo esfriou seu cajado

e foi calmo se deitar.

Sem motivos pra levantar

por lá ficou separado

do contato com a realidade

do ser bom ou ser malvado

no conforto do amor

se ajeitou o diabo.

 

Só que o tempo passou,

passou o amor

pra outro lado do inferno

em que ele morava,

e todo conforto se foi

com o amor ao seu lado.

 

Ainda tentou, tolo diabo

reconstruir seu reinado

com as maldades mais novas

que havia criado

enquanto estava deitado.

Mas, pobre diabo,

já não era mais o mesmo

e em cada maldade

deixava escapar

por descuido calculado

mensagens do amor provado.

 

O assassinato não se cumpriu

por que o diabo estava emocionado

com o blues rasgado

que a vítima cantava.

 

O terremoto só destruiu a prisão

onde havia um pobre coitado

amante encarcerado.

 

E foi o diabo.

 

Até hoje não é mais o mesmo.

 

Esta dorzinha do amor

vem da mão dele

que pinça gracejos

nos nossos casos.

 

O êxtase, bendito e desejado,

é só uma tentativa do diabo

de nos matar:

um ataque cardíaco disfarçado

nas cores do amor pintado.

 

2

 

Em todo caso,

só conto os casos do diabo

mais por gosto de contá-los

que por acreditá-los, é claro

o diabo é um grande contador de casos.

Nisso é insuperável…

Conta casos de ciúme,

de morte e violência

do desespero de mães,

que tem os filhos crucificados

conta a vida das putas

e das gentes honestas

dos padres e dos não padres

o diabo sabe de tudo,

mitologia

bruxaria

anarquia

o diabo é um anarquista

exímio contador de casos.

 

Algumas frases que o diabo disse

muito me ficaram marcadas.

Sempre é interessante

discutir política ou economia

ou a condição social dos finados árabes

suas posições são demoníacas:

o problema do omunismo são os omunistas!

E tive que engolir esta máxima!

o problema do omunismo são os omunistas!

 

3

 

Mesmo sendo ele o diabo,

algumas de suas posições eram boas.

Coisas do amor…

 

Ele continua contra o desarmamento,

mas sustenta secretamente

uma fábrica de livros sobre direitos humanos.

 

Desce de escada pra subir de elevador.

 

Quando encontra alguém interessante

ele vira um galã

sem paciência

um galã gasto.

 

Mas sorri e agrada

com um sorriso do capeta

convida pra subir

chama a chama

pouco a pouco

faz suas vítimas.

 

A morte é um gozo.

Na hora da morte o capeta brinda a existência

e não consegue exterminar vidas alheias

outrora tão comum

sem lhes dar o último e fatal prazer,

donde saem semivivas

prontas a servirem a seus vis interesses.

 

E o capeta não se arrepende.

Manda flores pra família.

Manda bombons

e vai a todas as missas de sétimo dia

o capeta é esperto.

 

4

 

 

À noite, cuidado.

O belzebu anda a solta

sem vergonha

bebendo e cantando.

Ele vai te chamar

você irá,

vai conhecer o inferno

em três goles

de conversa jogada fora

você irá

e ele não terá piedade

a não ser que você conheça uma boa música

pra cantar e niná-lo

o demônio é carente e adora ser ninado

a mãe desse diabo que sabe.

 

Aos poucos é certo,

você será surpreendida

por uma carinhosa rasteira

por ele desferida.

Anos se passarão e você não notará a rasteira.

Após algum tempo, já caída

perceberá a rasteira.

Ah, mas aí já é tarde demais

sentou, agora deita!

 

 

 

5

 

 

O plano do capeta

sem escrúpulos por essência

é feito só por maldade

 

Ele pincelará de amor

por que gosta de suas cores

ele chamará

os pássaros para cantarem suaves melodias

e os assovios excitarão o mais frígido dos padrecos.

E dirão que o diabo é excitante

vermelho peludo malcheiroso.

 

Mas o diabo, já cansado

galã gasto, ocupa-se de enganar

mais por hábito que por prazer

 

Ultimamente tem abusado

das mensagens de amor

em suas carnificinas:

 

Mesmo com toda a resistência

que os humanos tem ao amor

e o horror que temos do assassinato

Cada vez mais matanças de amor.

Eu te amo! Eu te mato!

Esta mania pegou

E as pulseirinhas já estão esgotadas nos Shoppings.

Eu te amo! Eu te mato!

Todos os atores da tele-histórinha

já usam a marca I Love I Kill

E tá todo mundo se amando e se matando

uma beleza!

 

O Sonhador

Posted in Livro Poético Singular das Dores on março 17, 2012 by alvaroromao

1

 

O sonhador espreita o tempo

como se nem vivo fosse.

O sonhador pensa

em outras dimensões

O sonhador pensa Elefante.

 

É quem vê o céu

e conhece as estrelas

já até pisou nelas,

o sonhador.

 

Num lugar distante, onde há paz

sem nenhuma vida humana,

somente espécies vegetais

dividem o mel com o sonhador.

 

Quem precisa de abelhas?

 

O sonhador foi quem inventou as abelhas.

E essa mania delas picarem,

e a nossa mania

de passar álcool

nas picadas das abelhas

O sonhador inventou tudo.

 

Então hoje, agora?

Por que estão processando o sonhador

naquela prensa de quatrocentos e cinquenta toneladas?

 

2

 

Um dia, cansado das perseguições

das manias de perseguição,

o sonhador se viu seguro e sozinho

no banheiro, armado e trancado.

 

Tudo que o sonhador precisava

ele teve a tez de pôr ali.

O banheiro fornecido

da matéria da cozinha

do quarto e da sala.

Cama mesa e banho

tudo no banheiro.

 

E passou ali o resto dos seus dias

sonhando

como um sonhador num banheiro.

 

3

 

 

O sonhador quase foi atropelado

por um carrinho de supermercado

na esquina dos biscoitos

ele foi surpreendido

por um grande carrinho embalado

por outro sonhador extasiado

o próprio piloto encarnado

num romano coliseu lotado.

 

4

 

O sonhador teve um sono longo

onde sonhou um grande amor

infinito como espírito,

doce como o mel.

Um amor só possível num sonho.

 

Quando acordou logo viu a casa desarrumada

o vizinho sem resistência no olhar

ou um carinho que pudesse mostrar

a passagem daquele fabuloso amor.

 

Pudesse o sonho próprio supor

que amor de sonho é invisível

e não se dá às vistas.

Amor de sonho é o secreto

e por isso ninguém o viu.

 

O policial carrancudo

a empregada cansada

o professor humilhado

o mendigo caído

As velozes carruagens modernas

os ônibus de trabalho lotados

as paraninfas da natureza

ninguém notou o amor sonhado

próprio da intimidade.

 

No entanto, depois de muito vagar

o sonho de amor

se viu visível, de tão falado.

 

Tanto procurou o sonhador

pelo seu sonho de amor

que o fez materializado

em um programa de auditório

numa polêmica briga pós casório

na novela, no cinema, no teatro

o amor ilusório ganhou o corpo jovem da atriz

de pele sedosa, loira loira de olhos claros

e o corpo do ator galã

gênio marombeiro sarado

os músculos delimitados, o olhar caído

apaixonados atores e atrizes

só faziam o papel do amor sonhado,

e assim todo o povo o reconhecia na rua,

quando o sonhador descia os becos e vielas

da sua casa favela, era parado pelos populares

Você está apaixonado, eu vejo no seu ar calado!

 

E negando o afirmado,

sabendo ser o criador do amor sonhado

o sonhador deixou de amar.

Se o amor não é mais sonho,

não precisa ser lembrado

menos ainda cultivado

Se o amor está incorporado

Não faz mais sentido sonhá-lo!

E foi o pensador à outra cama,

ter novos sonhos

ainda não assimilados

pela massa zelosa de amor sonhado.

 

 

5

 

O sonhador sonhou uma casa

grande o bastante pra caberem nela

seus doze sonhos diários.

 

Ergueu densas paredes de ideias

o chão feito com o coração,

ladrilhado com pedaços fartos da cor vermelha.

 

Colocou energia e alguma luz

com seu pouco conhecimento retirado

das apostilas de eletrônica.

O interruptor era seu cérebro

imenso refil de energia instalado.

 

Na entrada colocou flores de ouro

peças de luxuosa qualidade

confeccionadas por artistas mortos.

 

Em cada cômodo a mobília era só a necessária:

No banheiro uma lixeira

uma mesa na cozinha

um cachorro no quarto.

 

E os sonhos diários

os doze sonhos dia a dia acumulados

foram morando na casa

entre o cachorro, a lixeira e a mesa

foi ficando apertado.

 

Anos passaram e a casa ficou pequena

pra tantos sonhos criados

a família separou-se

foi cada um pra um lado

Sonhos separados

foram morar de favor e de aluguel

o bairro ficou povoado de sonhos desabrigados.

 

A prefeitura veio,

problema da prefeitura,

ela que resolva.

Com pouco tato

chamou a polícia

prendeu os sonhos

eram desocupados.

A solução foi levar

sonho por sonho

para um abatedouro

solução definitiva para os sonhos desabrigados

assim como faziam com os humanos

os prefeitos, policiais, autoridades,

um a um abateram os sonhos,

mas não sem antes documentá-los,

filmá-los,

tratá-los e vesti-los,

pois os sonhos,

quando documentados,

filmados,

tratados e vestidos,

aceitam morrer calados.

 

 

Romantismos de um bocudo

Posted in Livro Poético Singular das Dores on março 16, 2012 by alvaroromao

 

1

 

É o vento que faz tremer as copas verdes,

mistura as águas, e faz voar as aves.

É o vento que traz o canto embalado.

Transa na noite o pólen mais forte

Evolução do vento, redemoinho, passarada, assovio.

Faz a cama de pétalas pro dia acordar descansado

Faz, o vento encarnado, a casa do dia brilhante.

 

2

 

Um dia inteiro despedaçado,

mal começou e já havia acabado.

Nenhum encontro combinado se deu.

A morte chamou:

Vamos tomar um café?

Com um sorriso nos lábios.

E o Tempo, fração mal encaixada

não parou no momento,

nem voltou ao passado.

E o futuro não veio,

só o presente foi dado.

 

3

 

Como podemos entrar num acordo?

 

Eu e o seu lado poesia precisamos nos encontrar.

Só vejo seu lado pintado,

e a parte boa, velha e descascada.

 

Quero, ainda um pouco atrasado,

dar-te um singular presente

que só por mim pode ser dado,

pois de mim se trata.

 

Podemos selar um contrato.

Abaixo assinado, serei seu amante,

não seu criado.

 

4

 

Se me vires por aí sem o pano,

é por que estou frágil

precisando de cuidados.

 

Se hoje é raro o presente afeto

é dobrado

o valor

do seu dólar dobrado

 

Se vier ao mercado da gente

e sair, consternado,

sem me ver enjaulado

não chore.

 

Amanhã posso estar rasgado

O Álvaro de ontem é finado

A vontade navalha corta o presente

que é

seu próprio esmeril.

 

 

Calado Amor

Posted in Livro Poético Singular das Dores on março 16, 2012 by alvaroromao

O calado amor se mostrou

mas desfigurado foi visto

como todo amor.

Expressado nas poucas palavras

que cabiam na boca pequena

o calado amor foi pintado

Em cores sóbrias

em tons de cinza

o calado amor acabado

Foi feito uma ponte

que liga os dois lados

mas não de mão dupla.

O fluxo de um só lado.

Do outro lado inúmeros

desvios, atalhos

caminhos não acabados.

No meio da pista o amor

calado amor assombrado

esperado, contente, estampado.